![]() Das coisas-lugares a caosturar[1] Texto e fotos: Anderson Luiz de Souza[2] Das coisas-lugares que podem transportar para paisagens variadas, caosturando com cordão encerado, linhas, barbantes, panos, argila, rendas, ou com o que mais estiver ao alcance. A experimentar caminhos e efeitos ao traçar linhas que cortam o caos, desfiando possibilidades. Caosturar trata de coisas em deriva, caos em palavras que confunde um hálito gelado com rizo fácil somados aos incômodos decorrentes do frio e do calor. Possibilita condições de percorrer caminhos, de fazer visitas a caminhos desconhecidos, a ocupar linhas em deriva, de caminhar por linhas marginais, de costurar trajetos em deriva, criando condições para novas ocupações, novas linhas, novas visitas. Caostura-se com as intensidades e fluxos da vida, mergulhando no caos costurando e fabulando com os acontecimentos e devires da vida, com outras escolhas que subvertem as “regras” dos caminhos traçados. Com as regras que são criadas e desfeitas a cada traço, a cada ponto, a cada acontecimento e evento que compõe a vida. A cada segunda-feira apressada, cada terça-feira atrasada, cada quarta-feira cansada, cada quinta-feira, sexta-feira, sábado de feira ou domingo sem feira. Caostura-se disparado com o traçar cego dos movimentos performáticos dos cabelos armados, pelos eriçados, dos movimentos que não são vistos apenas sentidos. Que caosturam como música nostálgica, que faz suturar pelo afeto que preenche a perda de alguém que se vai aos poucos, que mesmo presente se distancia. Acumulando afetos, compondo com memórias, inventando novos afetos. Multiplicando sentidos, sensações e direções. Escritos do “sentindo”, como “um pano que puxa outro[3]” e se prende a trouxas, se pendura em pencas, arquitetonicamente planejadas. Desfeito em camadas tecidas em pacotes têxteis, travesseiros de acúmulos nômades. Objetos que abrem caminhos para o fundo de gavetas, para relíquias arqueológicas das caixas de costura. Vestígios modelados detalhadamente com a estética do mal-acabado, onde aquilo que não é, apenas, vem a ser. Um devir do mal feito, do incerto, da coisa que tem potência de não ser um, mas muitos. Movimento de cruzar o caos, produzindo deslocamento de narrativas em muitas camadas, que se desdobram em linhas tricotadas onde cada ponto é um mistério. Caosturas, arranjos, aglomerados, aglutinados de redes de tempo condensadas. Bordados sem hierarquia a fissurar narrativas lineares de possíveis mundinhos domésticos. Costuras corpóreas, registros de mãos obsessivas, que não sabem quando parar, apenas abandonam, cortam, modelam, amassam, apertam, amarram, enosam, alinhavam, tecem, experimentam. Mapeamento de coisa nenhuma, corpos precários a cartografar contravenções em caosposição – coragem de habitar dimensões incontroláveis que só se experimenta ao se lançar no caos e escapar por linhas. ________________________________________________________________________________________________________________________ [1] Texto escrito a partir dos estudos, leituras, conversas e experimentações decorrentes dos encontros dos Estudos do Corpo (2016/01), no encontro com as anotações e registros realizados no dia 14/06/2016 ao visitar a exposição “Cada coisa é um lugar”, com trabalhos de Eneida Ströher e Valderez Englert, que esteve aberta no período de 19/05 a 17/06/2016, no espaço expositivo no Porão do Paço dos Açorianos, da prefeitura de Porto Alegre. A noção de Caosturar está sendo desenvolvida nos encontros dos Estudos do Corpo (2016/01) e se dá com a junção das palavras Caos e Costurar. [2] Anderson Luiz de Souza – Participante dos Estudos do Corpo, Doutorando em Educação e Mestre em Educação pelo mesmo Programa de Pós-Graduação em Educação - UFRGS, na linha de pesquisa Filosofias de Diferença e Educação (2015). Especialista em Arte Contemporânea e Ensino da Arte - ULBRA (2011). Graduado em Moda (Bacharelado) CESUMAR (2006) - Maringá/PR e Graduando em Artes Visuais (Licenciatura em andamento) UNIP. Professor da Universidade Feevale, nos cursos de Moda, Artes Visuais (bacharelado e licenciatura) e também Design Gráfico. Professor líder do programa institucional ‘Feevale das Artes’ que abarca os projetos de extensão: Espaço Cultural Feevale e Pinacoteca Feevale. Integrante do Processo C3 e membro do conselho editorial e colaborador do Informe C3 Periódico Eletrônico ISSN 2177-6954 (www.processoc3.com). Participa do grupo de pesquisa ARCOE: Arte, Corpo e EnSigno na linha de pesquisa Humores artísticos (UFRGS), integrando os projetos de pesquisa: Essa senhora: figuras femininas - incidências em Porto Alegre; Aparelhos disciplinares: poéticas, micropolítica, educação. Performer e artista visual integrante do Coletivo M.A.L.H.A (Movimento Apaixonado pela Liberação de Humores Artísticos). Desenvolve trabalhos como artista visual, figurinista, designer gráfico, ilustrador e fotógrafo experimental. Em suas pesquisas desenvolve temas que abordam processos de criação, o desenhar e o pensamento da diferença. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/8698759327493556 [3] Fala de Valderez Englert durante visita guiada à citada exposição, no dia 14/06/2016. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Para referenciar este texto: SOUZA, Anderson Luiz. Das coisas-lugares a caosturar. Estudos do Corpo/Cartografar Corpos – Atividade de Extensão FACED/UFRGS. Ano 05, Porto Alegre, 2016. Publicado em 04/07/2016. Disponível em: http://estudosdocorpo.weebly.com/blogue/das-coisas-lugares-a-caosturar. ![]()
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